quarta-feira, 2 de março de 2011

Contrariar as estatísticas

Esta semana participei numa acção contra o uso das drogas, éramos uns vinte. Uns com meses de recuperação, outros com largos anos sem consumir, vinte a dar a cara para mostrar a uma audiência, numerosa e atenta, o que é a vida nas drogas, o que se pode fazer para sair do vicio e como é a vida sem consumir, para quem, durante muito tempo, viveu de cabeça cheia.
Espero que tenha servido para alguma coisa, espero que alguém esteja neste momento a pedir ajuda, quero acreditar que esteja alguém a ajudar, desejo que sejemos muitos a conseguir.
Gosto de pensar que este blogue também pode ajudar.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

No mundo dos outros

Estive uns tempos ausente do blogue porque arranjei emprego. Acordava com um objectivo, recebia dinheiro a trabalhar, andava motivado, deixei de andar de cara baixa, comecei a fazer contas à vida, tudo parecia encaminhar-se. A tal re-inserção estava a correr bem.
Finalmente.
Passado uns tempos recebi um telefonema, que afinal, tudo tinha mudado, que alguém estava de volta e que afinal se tinham "esquecido" de me informar que estava a substituir alguém, que era temporario. Que ficasse bem.
Foi esperto, o senhor patrão, teve um empregado super motivado, a fazer horas extraordinarias não pagas e de bom humor.
Eu é que não estava nada à espera deste joguinho. Até porque joguinhos havia era no outro mundo, das drogas e dos esquemas.
E verde e naïf e esquecido da natureza humana, tropecei e cai na esparrela e estive tão mal, tão em baixo...
Como são as coisas.

Agora, olha, bola para a frente, tudo na mesma, continuar a tentar furar um caminho estreito, cada vez mais estreito com a crise. Olhar para o que não perdi, para o pouco que vou construindo. Fazer o 12° ano.
E esperar por dias melhores.

Mas que não precisava disto, não, não precisava.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Novamente sem falar de drogas


Não sei quem foi ao SW, na Zambujeira, eu fui. E não sei se foi por não ir há já muito tempo a concertos com esta dimensão mas gostei, gostei muito.
A grande maioria das bandas vi pela primeira vez ao vivo e adorei 4 ou 5 que me fizeram saltar, dançar, sei lá. Também houve alguma decepção e obviamente bandas que eu próprio não gostava mas no fim gostei da experiência.
Provalmente foi a primeira vez que vi um concerto careta e se alguém que já dependeu das drogas ler isto, sabe do que estou a falar. E foi muito, muito bom.
Acho que finalmente, ainda verdinho, estou a aprender a curtir sem alteradores de mente. Obviamente que não passei para o coro de Santo Amaro de Oeiras (com todo respeito por eles) mas orgulho-me de estar a tentar encontar o meu caminho de ser feliz e sem drogas.

Tchau !

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

As diferenças

Olá pessoal!

Hoje não vou falar sobre drogas, apesar de onde eu estou haver por todo o lado.
Cá estou no sudoeste onde o 1º dia que não prometia nada arrasou e ontem tirando Groove Armada que foi do outro mundo grande flop (na minha modesta opinião).
Esperançado que hoje seja o "DIA" vou-me fazer à estrada, fiquem bem e vou mandando notícias.

sábado, 24 de julho de 2010

Misto ou não?

Para minha tristeza, tenho um amigo que fez tratamento comigo e que já lá tem de ir novamente. E eu comentava isto com uma amiga minha, porque ele fez-me a pergunta se devia ir para um centro só de homens ou um misto.
Sinceramente, não sei como aconselhá-lo até porque ele é uma pessoa digamos, "difícil", e porque eu mesmo já estive num centro misto.
Dei-lhe a minha opinião e não um conselho. Acima de tudo, todas as pessoas que entram, tanto nuns como noutros, vão para sair das drogas. Não para arranjar namorada/o, por isso, só a pergunta dele me deu a ver que, se calhar, mais uma vez ele vai pelas razões erradas. 80% das expulsões de centros mistos é por envolvimento.
Isto não acontece logo quando chegam, obviamente, mas depois de ganhar uns quilos, muito de que esteve escondido, e que nem se queria ligar durante o uso de drogas, e falo de sexo acima de tudo, vem cá acima. E nós, com meia dúzia de meses limpos, começamos a olhar-nos ao espelho, elas também, e é quase impossível não acontecerem relações.
Em muitas das pessoas o sexo, ou qualquer tipo de relação, não faz parte da vida há muitos anos, passaram infância nas drogas, adolescência drogas e só agora se estão a "descobrir". Por isso, não vejo nenhuma vantagem em ir para um misto, sinceramente só desvantagens.
E para ti boa sorte meu amigo, nunca desistir

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Viver a vida

Olá meus amigos. já há uns tempos que não escrevia porque também tenho estado a tratar da minha vida, o que não está nada fácil.
Mas como o próprio título indica tenho tentado aproveitar a vida o melhor que posso. Obviamente não tento trabalho não posso, por exemplo, viajar, mas descobri que em Junho e Julho há imensas coisas grátis em Lisboa e já vi um concerto rock que há quase todos os dias no São Jorge, já vi um concerto jazz no parque Eduardo VII, já vi um concerto de música sinfónica ao ar livre perto do teatro de S. Carlos, enfim tenho feito coisas praticamente sem dinheiro e tenho curtido muito.
Acima de tudo, o que quero transmitir é para viverem a vida, bolas.
Já estivémos no inferno, muitos de nós onde eu vi o concerto, já lá dormiram porque não tinham casa ... hoje sem drogas, livres dessas correntes, temos o direito a ser felizes como as ditas "pessoas normais" e, se agora as coisas não estão muito bem, por favor não atirem tudo para o ar porque a vida, e isto digo de coração, é altamente de viver.
Sentem coisas más, choram, mas isso faz parte, ?
Também vão rir muito. Eu tenho rido. Muito. Porque também não me tenho deixado ir abaixo por não ter trabalho, não é bom, mas bolas, não me vou drogar ou enfiar num buraco e ter pena de mim e ficar ali numa de auto-piedade. Não meu, a vida é linda (passo o cliché) e é para ser vivida até não podermos mais.
Fiquem bem e viva a vida !
Tchau !

terça-feira, 1 de junho de 2010

Um ano depois

Pois... Já passou um ano. e meu deus já passou tanta coisa.
Uma coisa que se realça logo à partida NÃO RECAI!!!!!!!
E isto é muito importante. Estive quase, derivado a problemas inesperados que me cairam como bombas, estava eu ainda fresco, acabadinho de sair da comunidade.
Desta vez, não fui pelo caminho que sempre fui (20 anos) e pedi ajuda. Completamente a tremer telefono a quem confio e peço ajuda.
E agora passado um ano vejo que realmente não quis ir usar, tinha todas as facilidades, vieram dar-me dinheiro etc... eu proprio é decidi.
Ajudei o meu irmão e a minha mãe, que eram quem estava com os problemas e quem precisava de ajuda com urgência.
Mas ai fiz um erro! Esqueci-me de mim.
Tanto, que eles ja retomaram as suas vidas e eu continuo à procura de emprego, continuo à porta da minha re-entrada.

Ok, eu sei que tenho feito tudo e mais alguma coisa para conseguir emprego, mas não tenho conseguido e por aqui podem ver como as drogas funcionam... Eu já tive muito mais vezes vontades de usar drogas por não conseguir arranjar emprego do que nessa altura de problemas pessados, mas pontuais.

Mais ou menos ao mesmo tempo reaproximo-me de uma pessoa do meu passado que eu adoro, mas com quem ainda tenho muito que "trabalhar" pois se nada é simples na minha vida, esta relação, então, é complicadissima.

Já chorei muito, não ri tanto como gostaria, pois sou uma pessoa bem disposta, mas se calhar a vida não me tem permitido. Continuo sem trabalho, tive de recorrer novamente ao CAT, pois naquela altura era, ou usava ou pedia ajuda, e pedi ajuda no CAT, onde tomo metadona, a minha "relação afectiva" pouco adiantou num ano, mas, meus amigos, tenho uma capacidade que já sabia que tinha mas que foi realçada na comunidade não desisto.
Tambem ja alinhei por outra conversa, mas agora não, mesmo que tenha que sofrer, que chorar, que me lamentar... mas não vou desisitir de mim, de ser feliz se possivel ao lado de quem gosto e amo.
Uff ! Hoje foi de arrasar, deve ser por ser dia da criança e com isto tudo há quase três anos que não consumo.
Viva eu ! Pois fui eu que fiz por mim. Com ajuda.
Um agradecimento muito especial às pessoas que nunca deixaram de acreditar. Que mesmo sendo um dinossauro das drogas aqui estou eu limpo, com dias melhores e outros piores, porque a minha saude como devem calcular não é das melhores, mas cá estou.
Abraço grande e beijinhos também e já sabem se quiserem comentar, não hesitem. Quem sabe não há ai pessoas nas mesmas condições, para podermos falar.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Nem sei bem o que me leva a escrever hoje ...

Nem sei bem o que me leva a escrever hoje.
Estou doente não consigo respirar com um ataque de sinusite, continua tudo como ontem ou seja nada de novo, a pessoa que mais gosto neste mundo está chateada comigo.... a minha vida familiar vai de mal a pior , enfim acho que escrevo só para descarregar a raiva que sinto e que não partilho com ninguém e isso faz-me mal.

Havia alguém que dizia que no primeiro ano de recuperação não se devia ter relações. Era para por a cabeça em ordem arranjar trabalho, etc...Vale o que vale, pois essa pessoa com 9 anos de recuperação recaiu por isso...
Eu estou cá lixado,um bocado desgovernado, ainda a querer as coisas para ontem, mas quem não tem os seus defeitos...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Mais do mesmo ...

Pois, hoje fui novamente à procura de emprego e...nickles.
Está mesmo difícil e então receber "nãos" como recebi hoje, sabendo que era melhor que qualquer um que fez testes comigo grrrrrr....
Enfim, não passa de um desabafo de alguém que começou o blog com o titulo RE-ENTRADA. Re-entrada na sociedade, na vida, no trabalho, nos impostos, nos cinemas... enfim, em tudo e tem tudo dado para o torto.
E eu até sou (ou era) daqueles de desistir, de mandar tudo para o ar e dizer "Que se lixe vou fazer o que faço e bem e os problemas pelo menos durante umas horas desaparecem", mas... por várias razões não o fiz até à data. Não que não me tenha apetecido, claro que já me passou pela cabeça, mas sei lá, se calhar estou mais maduro, não me meto a jeito.
As pessoas estão a voltar a confiar em mim, o que é muito importante para mim. Solidão é que não.
Não deixei de ter acompanhamento, uma série de problemas caseiros que antes seriam a justificação ideal para ir "dar nela", e agora quase que sou eu que as resolvo sozinho.
Enfim, no fim do dia continuo sem trabalho, continuo triste por uma situação de uma pseudo-relação que renasceu das cinzas, mas não desisto meu!
Isso é que não.
Amanhã vai ser melhor...

terça-feira, 25 de maio de 2010

Re-entrada, ok ! Mas onde é que está a porta ?

Pois que as boas intenções não pagam dívidas, já eu sabia, o que não tinha previsto é que ía ser tão difícil re-entrar no mundo do trabalho. E é certo que há a crise e é sabido que estive muito tempo fora do sistema... mas não sendo esquisito com o trabalho, sinceramente pensei que a esta altura, a minha vida já estaria noutro nível.

Chamar candidatos a uma entrevista, deixá-los à espera 1 hora e depois pedimos desculpa mas a vaga acabou de ser preenchida, não é o que eu chamo de sentido de humor.

Bolas !
O que é que é preciso fazer para arranjar um emprego ? Um trabalho ? Algo ?
Aguém desse lado tem a chave desta porra, desculpem, porta ?

Querer fazer coisas e não poder se mexer, querer avançar e sentir andar para trás ...
Não desisto, ainda não desisti.
Mas que podia ser mais fácil, podia.

E pronto, isto foi o desabafo da semana, para a semana há mais, não saiam dos vossos lugares, porque eu provável e infelizmente também não ...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Uma re-inserção interrompida

Olá. Já há uns tempos que não dizia nada. Resolvi dizer hoje, até porque vou falar de como se pode lixar uma re-inserção.

Estou a falar de um companheiro, que comigo estava na 3ª fase do programa da comunidade. E estando quase a acabar, a polícia com mandato de captura aparece e diz que ele tem até ao dia X para se apresentar na E.P.L (Estabelecimento, Prisional de Lisboa).

Como devem calcular foi um choque daqueles à moda antiga. Ficou logo desnorteado, queria ir gozar os últimos dias de liberdade fora da comunidade. O que até é compreensível.
Mas no estado em que ele estava, ía acabar por fazer merda...

Aqui salvaguardo a comunidade que tudo fez para que ele cumprisse o ano e meio em comunidade, mas sem sucesso. Mesmo assim a nossa terapeuta conseguiu que ele vá para a ala livre de drogas o que já não foi mau, pois de outra maneira teria ido para no meio das piranhas onde existe tanta ou mais droga do que cá fora.

Com estas minhas palavras quero apenas alertar que se pôs a recuperação dele em perigo depois de tantas batalhas que se passa na comunidade.

Felizmente e apesar de alguns tombos ele está bem. Já ultrapassou o meio da pena. Tá quase puto, tá quase.
Um abraço a todos tchau e amanhã há mais

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Pé na Poça

Ola e bom ano a todos !

Pois é tenho que ter cuidado... continuo a falhar o que me desilude e traz mau estar. Tenho que estar atento. Sempre.
Ha pouco tempo menti gratuitamente, não tinha de o fazer, nem ganhava mesmo nada com isso e fi-lo. Acima de tudo fiquei desiludido por tê-lo feito. Por ter errado de novo. Obviamente depois de pensar e de acalmar vi que foram tantos anos a fazer merda que não consigo mudar tudo em meses. Tenho que ter cuidado, ainda mais cuidado, mas também não me posso mandar a baixo de forma a ficar tão em baixo que depois não volto.
Resumindo, um passo de cada vez e com cuidado.
Um abraço, bom 2010 e esperem-me que volto em breve !

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Natal na comunidade

Pois é, às vezes a vida tem destas coisas. Natal dentro de uma comunidade ... Então e os pais, os amigos, os filhos ...?
Pois, mas quando andávamos cá fora, muitos de nós literalmente na rua, onde é que ficava a família ?
Obviamente, como tudo na vida, em segundo lugar, em primeiro lugar, já sabemos o que é que vinha.
Eu passei 2 natais em comunidade, sei bem do que falo, mas mesmo assim, "eles"tentam minorar as sequelas com uma festa onde vão as famílias, onde podemos dar largas à imaginação e por a quinta bonita e se ela fica bonita! Temos teatro, convívio com ex-residentes, lanche melhorado... tenta-se disfarçar o facto de estarmos lá dentro.
Lembro-me que depois das famílias se irem embora, tínhamos uma reunião com o monitor de serviço para todos dizerem o que sentiram e eu não disse uma palavra. Estava revoltado, angustiado e não saiu nada. Tive de passar por isso, tive que sentir na pele as consequências de uma vida de drogas e no fim ainda descobri que tinha amigos, pessoas que no final vieram falar comigo preocupadas e o monitor deixou excepcionalmente fazer um telefonema à minha mãe.
Eu sou muito céptico, não acredito muito facilmente nas coisas, mas se calhar, nessa noite o rapaz lá de cima estava a olhar para estes lados.

Bom Natal a todos

domingo, 20 de dezembro de 2009

Carta Aberta

Disseram-me uma vez que se continuarmos a usar drogas só temos três sítios onde vamos parar, o hospital, a prisão ou o cemitério.
No teu caso é mesmo para ficar a pensar, pois saíste da prisão, foste para uma comunidade, concluís o tratamento, ficas lá a trabalhar como monitor e agora morres. Bolas.
Para quem andava naquela comunidade não eras propriamente o monitor preferido. Eras bastante assertivo, directo e acima de sarcástico. Tinha que se aprender a gostar de ti. Se quiséssemos.
Também não tinhas de agradar a toda a gente.

Eu não me esquecerei de uma vez em que estava com vontade de me vir embora e tu, que sabias da minha dificuldade em pedir ajuda, levaste-me e às minhas coisas para a biblioteca. Ficamos longos minutos calados. Quando estamos nervosos não ouvimos ninguém.
E depois falaste. Falaste de ti, de como tinhas mudado desde o corte com as drogas. Mas não foi do que falaste que me tocou, não foi por isso que fiquei. Essa conversa é normal, faz parte do trabalho dos monitores. O que me tocou foi a tua sinceridade, a tua preocupação genuína.
Foi o alerta "Luís, como tu estás, daqui a uns meses tás cá outra vez." Não tenho de o fazer mas, muito obrigado por isso.

Tenho a certeza que nos vamos ver um dia.

Um abraço do ex-residente para o ex-monitor

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Excesso de confiança

Desde tema, alias como em (quase) todos, falo com a voz da experiência. A tendência de quem sai de uma comunidade ou de um centro de tratamento é de vir tipo pavão "agora ja sei como se faz para não la ir, nada me incomoda, nem nada me afecta.

Pura ilusão.

So à conta de pensar assim, ja recai eu uma vez. Vinha de uma instituição e estava exactamente assim, nada me tocava e continuava a parar com o pessoal do "passado". Obviamente as conversas eram as mesmas de antes e de sempre "onde é que é bom?", "quem é que esta agora a disparar?".

Eles estavam exactamente na mesma, eu é que pensava que estava diferente.

E até estava um pouco, mas la esta, o excesso de confiança levou-me a estar com eles todos os dias e principalmente a tentar que eles viessem para o "meu" lado, o lado dos que não consumiam.

Definitivamente não pode ser assim, porque por muito preparado que estejas é mais facil seres tu a passar para o lado deles, pois todas aquelas conversas, rituais, movimentos, mexem contigo. Até podes aguentar 1 semana, duas, três, um mês, mas um dia em que venhas mais fragilizado, mais vulneravel ou com mais problemas na cabeça, não hesitas e vais la novamente.

Portanto, não se ponham a jeito, não ha campeões nem herois nas drogas.

Tentem fazer novas amizades, vão a salas de NA, vão ao CAT, mas nunca, nunca mesmo se juntem a quem ainda esta a consumir. Se o fizerem, o mais certo é acabarem novamente a usar.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Sobre a importância de uma comunidade

Hoje escrevo um pouco sobre a falta que faz frequentarmos uma comunidade terapêutica. No meu caso foi /está a ser fundamental.

Foi lá que me conheci melhor e que me dei a conhecer melhor também. Descobri muitos defeitos, que normalmente me tramam a vida e além de os descobrir mais importante ainda, aprendi a lidar com eles cá fora, pois até ir para uma comunidade, para qualquer problema que tinha so havia uma solução. Consumir.

Consegui também descobrir qualidades. Essas são mais dificeis, porque normalmente somos pessoas tendencialmente depressivas, com baixa auto-estima, negativas, problemáticas... quer dizer, raramente vimos as coisas boas, mas qué las ay, las ay.

Depois aprendemos coisas tão basicas como levantar a horas, fazer a cama, ou seja, pequenas responsabilidades que, como devem calcular, lá fora não existiam, pois era cada um por si.

Por falar em cada um por si, lá dentro temos um grupo, pertencemos a algo. O que para nos é, ou melhor, era quase impossivel.

Aprendi o valor da amizade sem ter que dar um pacote em troca, aprendi o valor da ajuda, pois muitas vezes estava a precisar dela e havia sempre alguém disponivel, e vice versa. Enfim, aprende-se valores e principios que normalmente até cá estão dentro de nos. Estão é esquecidos e armarfanhados pelas muitas drogas que metemos.

Obvio que tudo se aprende se se quiser, pois se formos para lá mentir vamos sair exactamente como entramos.

Ah! outra coisa, há vários tipos de comunidades, com diferentes programar terapêuticos e se virem que o primeiro onde vão não é para voces, não desistam, tentem outros, eu so acertei ao terceiro, por isso... abraço e boas leituras .

Voltarei a este assunto mais tarde ...

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Confiança

Eis um dos busílis da questão da toxicodependência. É das coisas que talvez se perde com mais facilidade e que é muito difícil reconquistar. Todos “nós” enganámos, mentimos, fizemos trinta por uma linha para arranjar dinheiro para usarmos drogas e muitas vezes traímos a confiança de quem mais gostávamos, pais, mães, mulheres, namoradas, filhos, amigos, etc. Eu sei e vocês sabem que são coisas que acontecem no uso das drogas, mas eles não tinham nada que levar com isso e perdem a confiança completa em nós. Isto está um pouco interligado com o que já escrevi, pois cada vez que recaímos e voltamos a pôr-nos de pé, muitas vezes dizemos a todas estas pessoas “agora é que é, desta é que vou conseguir”, algumas vezes é realmente verdade, mas a grande maioria recai novamente. As estatísticas estão contra nós, só uma mínima minoria consegue largar completamente as drogas. Cabe a cada um de nós contrariar esses números.

É obvio que vamos passar (eu passei e continuo a passar) por sentimentos de injustiça, revolta, indiferença, pois ao princípio quase ninguém vai acreditar em nós, mas não desistam. Eu penso e falo muito na auto-valorização, na auto-estima em cima, porque acredito que são factores fundamentais para andarmos para a frente e não baixarmos os braços, mesmo quando ninguém acredita em nós.

No meu caso, talvez seja, apesar de tudo um privilegiado, pois continuo a ter pessoas (poucas, raras) que ainda acreditam, ou fazem por acreditar em mim e me veêm diferente. Mas mesmo assim tenho de provar a mim mesmo e a eles que estou realmente mudado., que não preciso de mentir, nem enganar, para que eles contem comigo.

Ao contrário também é verdade. Vivi quase sempre no mundo das drogas, logo, no mundo da desconfiança e hoje em dia é-me muito, mas muito difícil confiar nas pessoas, mesmo nas mais chegadas. Mas estou a fazer um esforço para o conseguir e sabem uma coisa ? Está mesmo a valer a pena.

Obvio que ainda me custa muito ouvir "onde estiveste ? e com quem ? e porque é que não atendeste o telefone ? ..." mas vejo isso como uma factura que estou a pagar por 20 anos de mentiras. E também, porque sempre vivi assim, no meio de enganos, o que tenho a perder em confiar, partilhar, desabafar em alguém que posso confiar ? Nada. Eu tenho feito isto ainda que com alguns erros pelo caminho, mas acreditem que me tem sabido bem.

Arrisquem e confiem, vão ver que se vão sentir melhor.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Recaida

Pois é, cá estou eu de novo para vos falar de um assunto complicado, principalmente na condição onde me encontro, na reinserção. De volta à sociedade. Uns defendem que faz parte de todo um processo complexo que é a toxicodependência, outros que só recai quem quer. Acho que é um bocado dos dois.
Falo por experiência própria, pois já recaí.
As razões que nós arranjamos para recair são as mais variadas, ou estamos muito tristes e vamos lá tirar a dor, ou muito contentes e estamos numa de festa e "é só hoje", enfim uma panóplia de justificações , mas que nenhuma tem sentido porque desde o momento em que sabemos o que fazer para não recair não há justificações para o fazer e há que o admitir. Vamos lá porque queremos sentir aquela sensação outra vez e normalmente não pensamos em nada, nem em niguém e mandamos tudo para o ar naquele momento. Porque somos compulsivos ? Porque somos obsessivos ? Porque achamos que já não temos nada a perder ? Sei lá. Não é chapa cinco para todos, o que tento transmitir aqui hoje é que há alternativas. Telefonem para alguém, vão dar uma volta à rua, contem até cem. Porque do pensar em comprar, até comprar mesmo, ainda vai um bocado. Valorizem o que têm feito até à data. Dêem valor a vocês próprios.
Eu estive numa situação há bem pouco tempo onde dois familiares próximos estiveram em situações muito graves. Eu tinha saído da comunidade há 3 ou 4 dias. Quando dei por mim já só me apetecia consumir, pois a dor era muito forte e sofrer não é comigo.
Factos: não o fiz. Pedi ajuda, telefonei, falei com pessoas, contei até mil, fui ao CAT, eu sei lá. Fiz o que foi preciso para não recair.
Como vêem não há super-homens, tem de se ter sempre muito cuidado: Eu pensava que vinha com 20 meses de terapia intensa e com as costas larguíssimas e abanei. E não foi pouco. Já tinha quase 2 anos sem consumir. Cuidado com o excesso de confiança. É muito traiçoeiro.
Definitivamente o outro lado da moeda não compensa, vêem novamente as ressacas, as mentiras, os enganos, as manipulações, enfim, vocês sabem , tudo o que é necessário para consumir.
Optei por resolver os problemas sem ter de recorrer às drogas. Não foi fácil, mas também o que é fácil nesta vida, pessoal ?
As tentações são grandes, mas nós não somos menos que ninguém, somos apenas "diferentes", por isso, não se ponham a jeito.
Isto foi um pequeno exerto, pois acreditem que voltarei a este assunto que é de certeza um dos mais dificeis... viver a vida sem drogas.
Até breve

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Reentrada

A alguém a quem interesse.
Porque se alguém se interessar poderá estar a viver um pouco da minha história. Estou no período de re-inserção social, saí há quase 4 meses de uma comunidade terapeutica.
Não vou contar, por agora, muito do meu passado, pois mais ano, menos ano, mais droga, menos droga, as nossas histórias vão basicamente dar ao mesmo. Consumo e mais consumo. Neste momento o interesse é falar do presente e do futuro. Eu, por exemplo, não tenho tido propriamente o que se pode chamar de um bom presente. Ainda não estou a trabalhar, já passei por situações graves, por sentimentos opostos, já me senti muito bem, como já me senti péssimo, mas tenho-me aguentado. O ter estado na comunidade preparou-me para isto. A vida tem coisas boas e más e vocês sabem o quanto nós detestamos sofrer , mas faz parte da vida. Porque antigamente bastava algo correr mal, pronto - consumo.
Alternativas meus amigos. Liguem a alguém, procurem ajuda nos CATs, por exemplo.
Eu estive 20 meses em comunidade e continuo a ter ajuda psicológica no CAT. Porque acreditem e vão por mim, que tenho 20 anos disto, sozinhos não conseguimos e é optimo ter alguém com quem desabafar. Eu pelo menos é desta forma que estou a conseguir, depois de N tentativas. Por isso aconselho-vos. Cá fora a vida é difícil, as rosas têm mesmos espinhos, as pessoas são injustas, vão levar muitos nãos em empregos, a vida afectiva não vai ser fácil de começar outra vez, mas não desistam, não mandem tudo para o ar como sempre fizemos. Aprendam a gostar de viver, mas sem ter de usar drogas. Eu tenho conseguido e por isso escrevo para dar uma força a quem esta na mesma situaçãoque eu, a quem poderá vir a estar e mesmo a quem agora que lê isto não faça sentido nenhum, um dia quem sabe ...
Esperem breves notícias