domingo, 20 de dezembro de 2009

Carta Aberta

Disseram-me uma vez que se continuarmos a usar drogas só temos três sítios onde vamos parar, o hospital, a prisão ou o cemitério.
No teu caso é mesmo para ficar a pensar, pois saíste da prisão, foste para uma comunidade, concluís o tratamento, ficas lá a trabalhar como monitor e agora morres. Bolas.
Para quem andava naquela comunidade não eras propriamente o monitor preferido. Eras bastante assertivo, directo e acima de sarcástico. Tinha que se aprender a gostar de ti. Se quiséssemos.
Também não tinhas de agradar a toda a gente.

Eu não me esquecerei de uma vez em que estava com vontade de me vir embora e tu, que sabias da minha dificuldade em pedir ajuda, levaste-me e às minhas coisas para a biblioteca. Ficamos longos minutos calados. Quando estamos nervosos não ouvimos ninguém.
E depois falaste. Falaste de ti, de como tinhas mudado desde o corte com as drogas. Mas não foi do que falaste que me tocou, não foi por isso que fiquei. Essa conversa é normal, faz parte do trabalho dos monitores. O que me tocou foi a tua sinceridade, a tua preocupação genuína.
Foi o alerta "Luís, como tu estás, daqui a uns meses tás cá outra vez." Não tenho de o fazer mas, muito obrigado por isso.

Tenho a certeza que nos vamos ver um dia.

Um abraço do ex-residente para o ex-monitor

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